quinta-feira, 25 de outubro de 2012

RSA Animate - The Empathic Civilisation

Também em: http://videos.sapo.tl/4EhwenJmZPeHiu4ANyDv





Nos últimos dez anos, houve um desenvolvimento bem interessante em: Biologia Evolucionária, Ciência Neuro-Cognitiva, Pesquisa sobre Desenvolvimento Infantil e muitas outras áreas. Estudos que estão começando a desafiar essas ideias regionalistas mantidas há tanto tempo a respeito da natureza humana e o significado da jornada humana.
            Mas existe outra referência emergindo na ciência, que é bem interessante, e que realmente desafia certas suposições. Com isso, as instituições as quais demos origem; A Instituição Educacional, nossas práticas comercias, nossas Instituições Governamentais, tudo baseado nessas suposições que estão para serem quebradas.
            Deixe-me transportar-lo de volta para o começo dos anos noventa, em um laboratório miúdo na cidade de Parma, Itália. Lá, cientistas puseram uma maquina de ressonância magnética em um macaco. Este macaco estava tentando abrir uma noz, e os cientistas queriam ver como os neurônios viriam a acender. Por um acaso – a ciência muitas vezes é regida pelo acaso – um humano entrou no laboratório, viu uma noz, e resolveu abrir-la. O macaco ficou em choque, “quem é esse invasor no meu laboratório” pensou ele. O macaco nem se moveu, ele apenas observou, vidrado, o humano abrindo a noz assim como ele havia tentado alguns minutos antes. Os cientistas olharam pelo monitor dos aparelhos, e os mesmos neurônios que antes acendiam quando o macaco tentava abrir a noz, acenderam quando este observou o humano abrindo a noz. Eles não faziam a menor idéia do que estavam observando ali. Pensaram que a maquina de ressonância havia quebrado.
            E então resolveram repetir o procedimento em outros primatas, especialmente chimpanzés com seu neo-cortez bem desenvolvido, até testarem com humanos propriamente. E o que puderam descobrir depois de repetido o experimento diversas vezes, foram os neurônios-espelhos.
            A conclusão é que todos primatas – elefantes também ainda não se têm certeza sobre cachorros e golfinhos – estão ligados por essa rede formada pelos neurônios espelhos. Ou seja, se eu estou lhe observando, e você está com raiva, ou frustrado, se sente rejeitado ou está alegre, eu posso sentir a mesma sensação. Pois os neurônios-espelhos virão a acender e eu vou sentir como se estivesse passando pela mesma experiência a que observo em você.
            Isso não é tão fora do normal. Se uma aranha sobe no seu braço, e eu estou observando, também irei sentir um arrepio por conta disso. Nós tomamos essa definição como garantia, mas o que realmente estamos tratando é sobre estarmos ligados à experiência das outras pessoas como se estivéssemos passando pela mesma situação.
            Os neurônios-espelhos estão apenas dando início a uma nova e enorme frente de pesquisas dentro da neuropsicologia, pesquisas sobre o cérebro e sobre o desenvolvimento infantil. Tudo sugerindo que nós não somos naturalmente ligados ou estimulados à agressão, ou violência e nem interesses egoístas. Mas que somos naturalmente conectados pela sociabilidade, afeto e companheirismo.
            A primeira jornada, a jornada para o verdadeiro pertencer, é uma jornada empática. O que é empatia? É bem complicado. Quando um bebê na enfermaria começa a chorar, os outros bebês vão chorar em resposta. Mas eles simplesmente não entendem por que o fazem. Isso é estresse empático, vem junto à biologia deles.
            Em torno dos dois anos e meio de idade, uma criança passa a ser capaz de reconhecer a própria imagem no espelho. É a partir desse momento, que você passa a desenvolver a empatia como um fenômeno cultural. Pois a partir do momento em que a criança passa a reconhecer a ela mesma, ela pode perceber que está observando à outra pessoa tendo uma experiência. Portanto eles são capazes de sentir que se eles sentem alguma coisa, é por quer estão observando outra pessoa na mesma situação. Então a criança é uma coisa separada da pessoa a quem observa.
            A individualidade surge junto ao desenvolvimento da empatia. Quanto maior a distinção sobre a personalidade, maior é a empatia. Em torno dos oito anos de idade, a criança aprende sobre nascimento e morte, ela aprende de onde ela veio, aprende que só viverá uma vez, que está vida é muito frágil e um dia eles virão a morrer. Esse é o começo da viajem existencial. Pois uma vez que a criança tem todos esses conceitos consolidados, eles percebem o quão frágil e vulnerável a vida é.
            É difícil estar vivo dentro desse planeta. Seja você um humano, ou uma raposa passeando pela floresta. Portanto quando uma criança percebe que a morte está à espreita, e que ela tem uma história própria de vida, ela percebe que o mesmo vale para todas as outras criaturas viventes. Cada momento passa a ser precioso.
É duro estar vivo, e as possibilidades nem sempre são as mais otimistas. Então se você pensar sobre vezes em que demonstramos empatia pelas outras pessoas e as outras criaturas, é por que nós sentimos a sua luta a respeito da morte eminente, e é, portanto, um ato de celebração à vida. Mostramos solidariedade com a nossa compaixão.
Empatia é o oposto de Utopia. Não existe empatia no céu – eu posso te garantir isso, antes que você chegue lá. Não existe empatia no céu, por que não há mortalidade. Não existe empatia na utopia, por que não existe sofrimento.
A empatia é fundamentada pelo medo a respeito da morte, e a celebração sobre a vida, e ajudando uns aos outros para que possamos prosperar juntos. É baseado em nossas falhas e imperfeições. Então quando falamos sobre construir uma civilização empática não estamos falando sobre utopia. Estamos falando sobre a habilidade humana de mostrar solidariedade, não apenas entre humanos, mas para todas as criaturas viventes desse planeta.
Nós somos homo-empáticos. Então aqui surge uma questão. Nós sabemos que a consciência sofre alterações no curso da história. A maneira como nossa mente está conectada nos tempos de hoje, não é a mesma como ela estava nos tempos medievais. Assim como este seria diferente da mente de nossos ancestrais de mais de quarenta e dois mil anos atrás. Portanto, a questão que abri quando comecei esse estudo, há quarto anos atrás, é: Como a consciência se modificou no curso da história?
Temos de então imaginar a seguinte proposição. Se os humanos são naturalmente tensionados ao estresse empático, seria possível estendermos a nossa empatia para toda a raça humana? Como uma família estendida, e para as nossas criaturas irmãs, como parte de nossa família evolucionária, tendo a biosfera como a nossa comunidade comum. Caso seja possível imaginar tal, então talvez sejamos capazes de salvar a nossa espécie e salvar o planeta. Se essa proposta for de fato impossível, eu não consigo imaginar como seremos capazes de outra maneira.
Empatia é a mão invisível. Empatia é o que permite estendermos a nossa sensibilidade para outra pessoa, para que possamos construir maiores e mais largas uniões sociais. Empatizar é civilizar. Civilizar é empatizar. Há quarenta e dois mil anos, a comunicação social se estendia apenas a uma comunidade tribal, e gritos à distância. Qualquer outra pessoa do outro lado da montanha era o Alien invasor. Portanto empatia estava restrita a laços sanguíneos.
Quando nos desenvolvemos para as civilizações de base agrícola, onde a escrita nos permita estender o sistema nervoso central e anular o efeito do tempo. Trazendo as pessoas mais próximas das outras, com a maior apreciação sobre habilidades melhor desenvolvidas, e o crescimento da individualidade, principalmente a respeito da consciência teológica. Foi então quando deixamos de lado os laços tribais, e adquirimos laços religiosos. Portanto judeus passaram a ver todos os outros judeus, como uma extensão de suas famílias, e passaram a empatizar uns com os outros. O mesmo aconteceu com os cristãos, os mulçumanos e por ai vai.
Quando chegamos ao século dezenove, com a revolução industrial, e nós estendemos o mercado para áreas maiores, criando a ficção a respeito dos estados nacionais. De repente, todos os britânicos passaram e enxergar uns aos outros como uma extensão de suas famílias. O mesmo valeu para os alemães, os americanos, italianos e etc. Não existe tal coisa como “Alemanha”, ou “França". Essas são ficções, mas elas permitem que estendamos nossas relações de empatia para que tenhamos lealdade em dividirmos uma identidade comum. Baseando-se na nova complexa energia da revolução da comunicação, que nos permite anular o tempo e o espaço.
Se nós saímos de laços consanguíneos, para laços religiosos, para empatia baseada em identificações como nações; seria tão difícil imaginar, a tecnologia da atualidade, nos permitindo conectar nossa empatia com toda a humanidade, ou mesmo com todas outras criaturas em uma única biosfera?
Nós temos a tecnologia para estender o sistema nervoso central e sentirmos todos entranhados em uma grande família. Quando houve aquele terremoto no Haiti – depois no Chile, mas se tratando apenas do Haiti – em uma hora os twitts sobre o assunto surgiram, em duas horas já haviam vídeos do terremoto no youtube, e em três horas a humanidade inteira estava mobilizada, por meio da empatia, a ajudar o Haiti.  Se nós fossemos como a corrente iluminista de pensadores sugere; materialistas, egoístas e egocêntricos; não viríamos a empatizar tão depressa com o Haiti.
Aparentemente, há cento e setenta e cinco milhares de anos atrás, no vale do Rift, – África – viviam dez mil anatomicamente modernos seres humanos – nossos ancestrais. Os geneticistas localizaram uma singular origem genética feminina. Aparentemente, seus genes foram passados para todas as pessoas na terra, as outras mulheres não perpetuaram. E tudo fica ainda mais curioso, pois eles localizaram uma base de genes masculina, – denominado de cromossomo-y adão, supostamente um pretendente melhor qualificado - seus genes estão nas células de todos humanos viventes. Então aqui está uma grande novidade, mais de 6,8 bilhões de pessoas; todas com suas diferenças teológicas, ideológicas, psicológicas, dramaturgas; todas lutando umas com as outras sobre ideias diferentes a respeito do mundo, e adivinhe só? Nós todos descendemos de apenas dois seres humanos – a bíblia acertou sobre esse ponto. Nós poderíamos ter originado de muitos, mas a idéia é que precisamos passar a pensar uns nos outros como uma extensão de uma família. E com isso não é necessário abandonar nossas identidades pessoais. Nós não perdemos nosso senso de identidade, nossas identidades religiosas, identidades nacionais, identidades consanguíneas. Mas nós estendemos as nossas identidades para que possamos pensar sobre a raça humana como irmãos de luta, assim como as outras criaturas viventes dentro de uma biosfera comunitária.
Precisamos repensar a narrativa humana. Caso sejamos realmente homo-empáticos, então precisamos exaltar essa natureza adormecida. Pois se permitirmos reprimir tal por meio das relações parentais, educacionais, comerciais e governamentais; a jornada secundária emerge: o narcisismo, o materialismo, a violência, e agressão e etc.
Caso precisemos abrir uma discussão global sobre a empatia façamos o quanto antes. Comecemos a repensar sobre a natureza humana. Expressemos a nossa sociabilidade empática. Para que possamos repensar sobre as instituições da sociedade e prepararmos o terreno para uma civilização empática.

Esse texto é a tradução de uma palestra feita durante um encontro da RSA (Royal Society for the encouragement of Arts – Sociedade Real para encorajar a Arte) promovida pelo palestrante/escritor/pesquisador Jeremy Rifkin – tudo que eu adoraria me tornar. A tradução é de minha autoria. Tive de fazer várias adaptações, mas espero ter mantido em fidelidade a intenção principal de cada passagem.
             Postei assim que terminei de traduzir, levei pelo menos cinco horas para traduzir o vídeo na integra. Pretendo fazer o mesmo com alguns outros vídeos da RSA Animate que virei a selecionar.

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